quinta-feira, 26 de dezembro de 2013

SÓCRATES E AS REDES SOCIAIS DO SÉCULO XXI

Sócrates, filósofo do século V a.C
     Nestes tempos de redes sociais, reler Sócrates e, preferencialmente, praticar seu texto passou a ser fundamental. A facilidade eletrônica é enorme, possibilitando "curtir" e "compartilhar" em frações de segundo. Mas essa facilidade também é perigosa, socialmente perigosa, como nos ensinou o filósofo.

                                                  As Três Peneiras

     Um homem procurou um sábio e disse-lhe: - Preciso contar-lhe algo sobre alguém! Você não imagina o que me contaram a respeito de...
     Nem chegou a terminar a frase, quando Sócrates ergueu os olhos do livro que lia e perguntou: - Espere um pouco. O que vai me contar já passou pelo crivo das três peneiras?
      - Peneiras? Que peneiras?
      - Sim. A primeira é a da verdade. Você tem certeza de que o que vai me contar é absolutamente verdadeiro?
     - Não. Como posso saber? O que sei foi o que me contaram!
     - Então suas palavras já vazaram a primeira peneira. Vamos então para a segunda peneira: a bondade. O que vai me contar,  gostaria que os outros também dissessem a seu respeito?
      - Não! Absolutamente, não!
     - Então suas palavras vazaram, também, a segunda peneira. Vamos agora para a terceira peneira: a necessidade. Você acha mesmo necessário contar-me esse fato, ou mesmo passá-lo adiante? Resolve alguma coisa? Ajuda alguém? Melhora alguma coisa?
      - Não... Passando pelo crivo das três peneiras, compreendi que nada me resta do que iria contar.
     E o sábio sorrindo concluiu: - Se passar pelas três peneiras, conte! Tanto eu, quanto você e os outros iremos nos beneficiar. Caso contrário, esqueça e enterre tudo. Será uma fofoca a menos para envenenar o ambiente e fomentar a discórdia entre irmãos.
     Devemos ser sempre a estação terminal de qualquer comentário infeliz! Da próxima vez que ouvir algo, antes de ceder ao impulso de passá-lo adiante, submeta-o ao crivo das três peneiras porque pessoas sábias falam sobre ideias, pessoas comuns falam sobre coisas, pessoas medíocres falam sobre pessoas.


(Sócrates)

sábado, 14 de dezembro de 2013

GUERRAS DE RELIGIÃO E GUERRA DOS TRINTA ANOS

GUERRAS DE RELIGIÃO NA FRANÇA

     As guerras de religião provocaram, entre outras consequências, o atraso na consolidação do absolutismo francês. O processo de unificação da monarquia foi iniciado pela dinastia dos Capetos, na Baixa Idade Média e avançou com a vitória da dinastia Valois na Guerra dos Cem Anos (1337/1453). Sob a coroa Valois, o Renascimento Cultural chegou à França, assim como o início da expansão marítima e do processo de Reformas Religiosas.
   Estruturalmente, ocorria a transição do feudalismo ao capitalismo, no qual os valores feudais estavam em decadência e as forças capitalistas, ainda frágeis, em expansão. Na França católica dos Valois, avançava o protestantismo, especialmente o calvinismo, ali conhecido como huguenote. Ligada ao capitalismo nascente, a burguesia via no calvinismo uma ideologia adequada aos seus interesses de lucro monetário. Por outro lado, a nobreza conservadora continuava ancorada no catolicismo.
   As duas facções buscavam estar próximas do trono, influenciando as decisões do monarca, como se viu entre 1559 e 1589, quando a França teve três reis (Francisco II, Carlos IX e Henrique III) politicamente frágeis, incapazes de fortalecer o poder real e que sofriam o assédio dos dois setores em choque, os católicos e os huguenotes.

O INÍCIO DAS GUERRAS

     Entre os líderes huguenotes, destacaram-se o almirante Coligny e Antônio de Bourbon, rei de Navarra. Do lado católico, a família Guise, muito influente nos governos da dinastia Valois. Em 1562, num confronto entre as duas facções, os católicos massacraram dezenas de protestantes, dando início às guerras.
A NOITE DE SÃO BARTOLOMEU
Almirante Coligny
     Os huguenotes conseguiram avançar politicamente, graças à habilidade de Coligny e sua influência junto a Carlos IX, rei Valois. Num acordo político por ele costurado, Henrique de Bourbon, huguenote e filho de Antônio de Navarra, casou-se com Margarida, irmã do rei, católica. Catarina de Médicis, mãe do rei, descontente com o acordo desse casamento, tramou, com apoio de Henrique de Guise, o atentado para assassinar Coligny.
     Embora o atentado tenha fracassado, a “Rainha Mãe”, Catarina de Médicis, convenceu Carlos IX a massacrar os huguenotes, o que aconteceu em 24 de agosto de 1572, na chamada Noite de São Bartolomeu.
Noite de São Bartolomeu
     Dois anos depois, Henrique III assumiu o trono, em função da morte de seu irmão Carlos IX. Procurou reconciliar o trono com os huguenotes, dando-lhe liberdade de culto e desaprovando oficialmente o massacre de 1572. Contudo, os católicos reagiram, ainda liderados por Henrique de Guise.

A GUERRA DOS TRÊS HENRIQUES

     Em 1584, morreu Francisco, irmão e sucessor de Henrique III. Henrique de Bourbon, cunhado do rei, passou a ser o sucessor direto do trono, por ser casado com Margarida de Valois. Os católicos se recusaram a aceitar um huguenote no trono, também cobiçado por Henrique de Guise.
     A guerra envolveu, portanto, Henrique III (rei Valois), Henrique de Guise (líder católico) e Henrique de Bourbon (líder huguenote). Os dois primeiros morreram assassinados e o trono foi assumido pelo Bourbon, com o título de Henrique IV. Terminava, assim, a dinastia Valois e começava a de Bourbon, que levará a França ao absolutismo monárquico, especialmente com Luís XIV.

A FRANÇA DE HENRIQUE IV

Henrique IV
     Para assumir o tono, Henrique IV abjurou do calvinismo huguenote e se fez católico. A respeito disso, é atribuída a ele a frase “Paris bem vale uma missa!”, num claro exemplo de maquiavelismo político, em que os fins ( a coroa francesa) justificam os meios (assumir publicamente o catolicismo). Em 1598, assinou com Felipe II, rei da Espanha, um tratado de paz entre os dois reinos. Felipe II, Habsburgo e católico, também era cunhado dos reis Valois.
     Ainda em 1598, Henrique IV assinou o Edito de Nantes, consolidando a liberdade de culto aos huguenotes, dando-lhes direito de defesa armada em caso de ataques católicos. Reconhecia, assim, a igualdade civil entre católicos e protestantes. O fim das guerras de religião possibilitou o avanço da França em direção ao absolutismo monárquico.

A GUERRA DOS TRINTA ANOS

     A Guerra dos Trinta Anos ocorreu entre 1618 e 1648 e envolveu vários povos europeus, especialmente católicos, luteranos e calvinistas.
     Durante o processo de Reforma, o protestantismo avançou sobre o continente e a Europa, outrora exclusivamente católica, perdeu sua unidade religiosa. A Contrarreforma –ou Reforma Católica – reagiu ao avanço do protestantismo, mantendo-se maioria na França, em Portugal, na Espanha e nos Estados Italianos. Todos os demais Estados Nacionais, ducados, principados, assumiram algum tipo de protestantismo, especialmente o fundado por Calvino, mais adequado à burguesia e ao capitalismo nascente e em expansão. O papado passou a ser visto como “estrangeiro”, “intruso” e o poder nacional se colocava acima do poder universal da Igreja Católica.
Defenestração de Praga
     Na região da Boêmia, o luteranismo galvanizou o nacionalismo tcheco contra o Sacro Império Romano Germânico e o poder católico. Em 1617, o trono da Boêmia foi herdado por um católico, Ferdinando, que tentou impor sua religião aos seus súditos, o que provocou a reação nos nobres tchecos. Em23 de maio, protestantes invadiram o palácio real de Praga e, com extrema violência, jogaram por uma janela, de uma altura de vinte metros, dois representantes do rei católico. Foi a “Defenestração de Praga”.
     Em pouco tempo, a revolta atinge outros lugares de Sacro Império.

A GUERRA NA ALEMANHA

     Ferdinando II aliou-se a Maximiliano da Baviera e suas tropas esmagaram os tchecos da Boêmia. Os bens dos nobres derrotados foram confiscados, o protestantismo foi proscrito e os líderes decapitados. Fugindo das forças católicas, mais de um milhão de tchecos migraram da Boêmia para outros lugares da Europa.
     O rei da Dinamarca, Cristiano IV, interveio a favor dos protestantes tchecos, o que arrastou a guerra para praticamente toda a Europa, direta ou indiretamente. Contudo, Ferdinando II derrotou as forças dinamarquesas e determinou a restituição dos bens da Igreja Católica, confiscados pelos protestantes desde 1555.
     Desde a sua criação, o Sacro Império tinha imperadores eleitos, não hereditários. Quando Ferdinando II tentou tornar o trono hereditário, muitos nobres alemães eleitores não aceitaram. A França e a Suécia, temendo o fortalecimento dos Habsburgos do Sacro Império, também não aceitaram os planos de Ferdinando II e apoiaram os nobres alemães contra seu imperador.
     O próprio rei da Suécia, Gustavo Adolfo, comandou a vitória de suas forças contra o Sacro Império e morreu em combate. A França, que até então olhava a guerra com certa distância, lançou-se contra Ferdinando II.

A FRANÇA E A GUERRA

     Luís XIII, rei da França, casou-se com uma filha de Felipe II da Espanha. A diplomacia francesa esteve, por certo tempo, ao lado dos Habsburgos da Espanha e
Cardeal Richelieu e a Guerra dos Trinta Anos
do Sacro Império. Contudo, o cardeal Richelieu, embora católico, rompeu com os Habsburgos, também católicos e aliou-se à Suécia, à Dinamarca e aos Países Baixos. Em 1635, começaram as hostilidades entre a França e os Habsburgos.
     Nos primeiros anos, os franceses não foram bem-sucedidos, mas, com o desenrolar do conflito, terminaram vitoriosos, já no reinado de Luís XIV, o “Rei Sol”.

CONSEQUÊNCIAS

     Derrotado, o Sacro Império Romano-Germânico entrou em crise, perdeu territórios e os poderes locais se fortaleceram, em detrimento do poder central. Ao final da guerra, foram assinados os Tratados de Westfália, pelos quais a França e a Suécia saíram fortalecidas e receberam territórios. Os Países Baixos e a Suíça consolidaram a independência.